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ARMAMENTO - FABRICANTES DE ARMAS VENDEM MENOS MAS UCRÂNIA VAI ALTERAR CENÁRIO

NOVO

2023-12-09 08:03:05

As receitas das maiores empresas do sector da defesa caíram no ano passado pela primeira vez em oito anos, mas não refletem ainda as necessidades da guerra na Ucrânia ou o conflito no Médio Oriente. Os Estados Unidos dominam em toda a linha, mas a China está a avançar e fez com que a Ásia e a Oceânia já tenham mais peso do que a Europa. As encomendas feitas, a multiplicação de conflitos e os muitos pontos de tensão geopolítica fazem antever que este ano vai ser de crescimento e os próximos também rsferreira@medianove.com As receitas conjuntas dos 100 maiores fabricantes de armas e fornecedores de serviços militares do mundo caíram 3,5% no ano passado, face a 2021, para 597 mil milhões de dólares (cerca de 551 mil milhões de euros), o que acontece pela primeira vez desde 2015, quando o Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisa para a Paz (SIPRI, na sigla inglesa) passou a incluir nas suas análises dados sobre empresas chinesas. Esta quebra dá-se também apesar de o número de conflitos armados ter aumentado 12.2% no mesmo período, para 137, incluindo o provocado pela invasão russa da Ucrânia, o maior embate bélico visto na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial. Os dados do estudo de duas investigadoras do Instituto de Oslo de Pesquisa para a Paz (PRIO. na sigla inglesa) sobre as tendências dos conflitos, publicado este ano, referem que o número de mortes em conflitos envolvendo Estados mais do que duplicou em 2022. para mais de 204 mil, o número mais elevado desde 1984. Os investigadores do SIPRI explicam que houve um "aumento notável" da procura por armas, alimentado pela multiplicação do número de conflitos e pelo aumento das tensões geopolíticas, mas que não se traduziu em vendas. "Isto realça o lapso de tempo muitas vezes longo entre a procura inicial por armas e o subsequente aumento da produção e entrega pelas empresas, especialmente quando há severas restrições de capacidade", apontam. "O crescimento da procura global de armas foi mais visível, nas empresas, no aumento das encomendas, que correspondem a receitas futuras. Algumas empresas cujas receitas de armas diminuíram em 2022 esperam um crescimento substancial nos curto e médio pra-(P A S M A I O R E S E M P R E S A S DE A R M AS UM RANKING DOMINADO PELOS EUA Os cinco maiores fabricantes de armas e fornecedores de serviços militares do mundo são dos EUA, país que domina o ranking com 42 dos 100 maiores. A China é o segundo maior país. conta com oito empresas na lista, três delas entre as dez maiores, e está a crescer, contribuindo para que as 22 empresas asiáticas ultrapassem as europeias. A Europa t em 26 empresas, sete delas no Reino Unido, e três são pan-europeias Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute Infògrafia: Mário Malhão I mmalhao@medianove.com F-35 A (versão para a força aérea) P r e ço 8 9 , 2 milhões USD P r i m e i r o voo 15 dez. 2 0 06 Aviões c o n s t r u í d os 9 7 5+ C o m p r i m e n t o 15,7 r Velocidade A u t o n o m ia GD L o c k h e e d M a r t in C o r p . EUA Evolução do total da receita proveniente da venda de armas Em mil milhões d e dólares o o n o 403,9 239,1 201,1 zos, com base nas encomendas feitas", acrescentam. Além disso, no caso da guerra que se iniciou a 24 de fevereiro de 2022 na Ucrânia, a procura incidiu sobre tipos específicos de armamento, nomeadamente munições, sistemas de defesa antiaérea, veículos blindados, sistemas de artilharia, mísseis e veículos aéreos não tripulados (drones). Mesmo assim, segundo os dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial, atualizados a 31 de julho, os compromissos assumidos com o apoio militar à Ucrânia ascendem a 94.89 mil milhões de euros, com os Estados Unidos da América (EUA) a contabilizarem 42,1 mil milhões e a União Europeia (contando os países individualmente e as instituições europeias no seu conjunto) 40.3 mil milhões, o que impacta neste mercado. As empresas dos EUA e da Europa que operam neste sector identificaram ainda o impacto da pandemia de covid-19. a escassez de mão-de-obra. mas também o acesso a matérias-primas e o aumento dos preços, assim como a instabilidade nas cadeias de abastecimento, como problemas que também limitaram a sua atividade. Porém, "em contraste com as suas congéneres europeias e norte-americanas. muitas empresas do top-100 na Ásia e no Médio Oriente parecem ter sido capazes de ultrapassar estas dificuldades", acrescentam. EUA no topo O líder do ranking continua a ser o grupo norte-americano Lockheed Martin, apesar de as suas receitas terem caído 8,9%, para 59,3 mil milhões de dólares (cerca de 54,8 mil milhões de euros). A Lockheed Martin é conhecida pela produção dos caças F-35, a mais recente geração. e F-16, mas também pelos helicópteros Sikorsky, especialmente o Black Hawk, e os sistemas antimíssil Patriot, e a quebra nas receitas é explicada "principalmente por problemas nas cadeias de abastecimento". Os cinco maiores fabricantes de armas e fornecedores de serviços militares são norte-americanos e as suas receitas representaram quase um terço (32%) do total. Das 100 maiores, 42 empresas estão sediadas nos EUA e, apesar da quebra de 7.9% das vendas, para 302 mil milhões de dólares (cerca de 278,6 mil milhões de euros), representam mais de metade (50,5%) do total. As receitas das 22 empresas da Ásia e da Oceânia que integram o ranking do SIPR1 subiram 3,1%, para 134 mil milhões de dólares (cerca de 123,6 mil milhões de euros), ultrapassando. pelo segundo ano consecutivo, as vendas das empresas europeias - 26 -, que totalizaram 121 mil milhões de dólares (cerca de 11,6 mil milhões de euros). A seguir às cinco empresas norte-americanas, a sexta que surge na lista é britânica e é a BAE Systems, um conglomerado que fabrica munições, veículos de combate e blindados para transporte de pessoal, sistemas de armas para a marinha dos EUA e participa nos projetos do F-35 e do caça europeu Typhoon, mas também dos novos submarinos nucleares Astute e do porta--aviões da classe Queen Elizabeth. Mas as três seguintes são chinesas e mais duas surgem até à 15. a posição. No total são oito empresas que. em conjunto, representaram vendas de 108 mil milhões de euros (cerca de 99,6 mil milhões de euros), em alta pelo quarto ano consecutivo, representando já 18% .do total e fazendo da República Popular da China o segundo país mais relevante do ranking, a seguir aos EUA. A primeira de duas empresas russas - a holding Rostec - surge na décima posição, a italiana Leonardo na 13. a e. na 17.a. a francesa Thales, que está presente em Portugal, onde é acionista da empresa de software Edisoft e detém a especialista em cibersegurança Maxive. Promessas de crescimento Os analistas do SIPR1 estimam que as receitas dos maiores fabricantes de armas e fornecedores de serviços militares cresçam este ano, face ao anterior, à medida que sejam concretizadas as encomendas feitas em 2022 e mesmo este ano, em consequência da multiplicação de conflitos, em que continuou a destacar-se a guerra na Ucrânia e a que se juntou, no Médio Oriente. a guerra entre Israel e o grupo islamista palestiniano Hamas. Os governos já fizeram encomendas para repor os stocks delapidados pelos conflitos e para modernizarem a sua capacidade militar, e a tendência deverá manter-se. O Instituto Kiel assinala que têm sido aprovados pacotes plurianuais de apoio à Ucrânia, também com compromissos militares, como no caso da Alemanha, que aprovou 10.5 mil milhões de euros de apoio militar, até 2027. e a Noruega 6,6 mil milhões de euros ao longo de cinco anos. "A encomendas e o aumento da procura de armas durante 2022 e 2023 sugerem que a receita total do top-100 pode aumentar significativamente nos próximos anos", dizem os analistas do SIPRI. Receita proveniente da venda de armas em 2022 Em milhões de dólares PB Northrop Grumman Corp. EUA m Boeing EUA m General Dynamics Corp. EUA ES Raytheon Technologies EUA m L3Harris Technologies EUA 22.060 ea NORINCO China 20.620 m AVIC China 11.770 m CASIC China 15.080 CETC China 19.560 CASC China 604,9 597,2 A Academia de Genebra de Direito Internacional Humanitário e Direitos Humanos monitoriza atualmente 110 conflitos armados em todo o mundo Ricardo Santos Ferreira