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JOSÉ PEDRO CROFT E A POESIA DAS FORMAS E DAS CORES

Jornal de Notícias Online

2023-05-07 20:49:04

Com curadoria de Sérgio Mah, artista expõe em Lisboa obras produzidas ao longo dos últimos dois anos., Até 28 de maio de 2023, a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, em Lisboa, apresenta, no seu espaço de exposições temporárias, "Et sic in infinitum" de José Pedro Croft (PT, 1957) que reúne obras produzidas pelo artista nos últimos dois anos. José Pedro Croft nasceu no Porto e nos inícios da década de 1981 conclui a sua formação na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Faz parte da geração de artistas que protagonizam uma reconhecida animação do meio artístico que se viveu em Portugal na década de 1980, nomeadamente após a entrada do país na CEE. Distantes já dos movimentos artísticos revolucionários e de protesto que marcam o pós-25 e Abril de 1974, estes artistas marcaram o regresso da afirmação das práticas artísticas enquanto tal, nas suas dimensões de experimentação estética e matérica. PUB José Pedro Croft expõe desde então, tendo no seu currículo centenas de exposições nacionais e internacionais, presença nas mais relevantes coleções públicas e privadas, tendo sido, inclusive, agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de SantIago da Espada em 1992. Com curadoria de Sérgio Mah, esta é uma exposição em que se afirma toda a poesia da obra de um artista que estabelece, como poucos, meta relações entre forma, cor e matéria que são elogios ao poder da simplicidade e, simultaneamente, à tentação humana pelo que é complexo e não linear. Nas suas abordagens ao espaço público, nas grandes obras de ferro e vidro colorido, José Pedro Croft ensina-nos a reler a paisagem, parecendo-nos também o escultor da coisa natural que brindou com a coisa artificial, a obra artística, propriamente dita. Sem medo da escala, como na obra que encontramos no campus do DST Group, em Braga, o "memorial ao trabalho infantil", a peculiaridade desta exposição é a sua umbilical relação com o papel e com o desenho, forma de pensamento, na escala íntima do atelier confinado, a partir do qual se desenvolvem objetos, dípticos e polípticos de leitura bidimensional, que fazem a leitura do espaço, permitindo que se respire em cada intervalo. O círculo e o concêntrico, inteiro ou interrompido domina a imagética, criando uma narrativa que, não obstante o campo de partida arquétipo, explora as possibilidades de um mesmo elemento, semiótica do universo, da criação, da vida. O título da exposição, "Et sic in infinitum" é uma citação que encontramos em cada um dos lados de um desenho do físico e cosmologista Robert Fludd (UK, 1574-1637). Este desenho de Fludd, ponto de partida conceptual deste conjunto de obras de Croft, é reconhecido como uma das primeiras representações da criação do universo, dando a ver um quadrado negro imperfeito, ou seja, a imagem do pré-universo, do nada, do vazio negro e sem forma, que antecede a criação do mundo. Se a poesia é o clímax da cosmologia, o limite supremo da transcendência, interessa pouco se as obras que José Pedro Croft aqui apresenta são desenhos, pinturas, gravuras ou esculturas. Chamar-lhes-emos poemas, não daqueles em sonetos e das regras, mas da poesia que é nova e experimental, que inventa o futuro.