PRESIDENTE DA ALSTOM EUROPA: “OS NOSSOS COMBOIOS SERÃO 100% FABRICADOS EM PORTUGAL”
2023-05-03 11:30:09

Na corrida ao fornecimento de 117 comboios à CP, a Alstom propõe-se localizar em Portugal todo o processo de fabrico. A unidade industrial que pretende construir em Guifões irá criar mais de 1.500 empregos, diretos, indiretos e induzidos, diz o presidente do grupo na Europa. Entregues as propostas finais ao concurso da CP para o fornecimento de 117 comboios esta terça-feira, o presidente da Alstom Europa revela que a oferta do grupo francês para o fabrico completo de comboios em Portugal envolve a transferência de tecnologia de ponta, desenvolvimento de competências locais e criação de emprego. Qual foi a proposta final da Alstom no concurso da CP? A nossa proposta industrial e tecnológica de renovação do material circulante da CP aposta no desenvolvimento industrial de Portugal. Propomos não só localizar acabamentos e algumas etapas finais do projeto de industrialização, mas também transferir todo o “know-how” relacionado com o fabrico de comboios, desde a soldadura e fabrico de carruagens em alumínio até oficinas elétricas, maquinação e acabamentos interiores. Como se destacará se os outros concorrentes também se comprometerem a construir uma fábrica de comboios no país? Não estou certo de que os nossos concorrentes possam propor uma transferência de conhecimento tão ambiciosa para Portugal. Nós acreditamos na transferência de tecnologia e na construção de um relacionamento industrial de longo prazo no país. A nossa proposta industrial é muito mais vasta do que este contrato e é muito mais ambiciosa do que apenas uma atividade de acabamentos. Já o fizemos em vários países (África do Sul, EUA e Índia), e vamos fazê-lo em Portugal. Enquanto líder global com raízes locais, esta proposta dá-nos a oportunidade de transferir tecnologia, desenvolver competências e criar emprego na região do Porto e em Portugal em geral. Assim, o país pode ter comboios que possa chamar de seus com orgulho. Tecnicamente falando, esta também é a proposta mais confiável. Propusemos à CP os comboios mais inovadores, incorporando as mais recentes tecnologias em sistemas de tração, sinalização, segurança e informação aos passageiros. Acha que está na melhor posição para vencer? Somos a melhor opção. Desenvolvemos um projeto totalmente local, resultado do trabalho conjunto do líder ferroviário mundial e parceiros portugueses. A nossa proposta é a melhor em termos de transferência de tecnologia, desenvolvimento de competências locais e criação de emprego. A Alstom foi a única candidata a apresentar um projeto de base portuguesa desde o início. “Comboios para Portugal, inteiramente construídos em Portugal” sempre foi a nossa proposta. Adicionalmente, a Alstom está a colaborar com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para desenvolver um programa de mestrado com foco na mobilidade inteligente e sustentável que será lançado no próximo ano letivo, com início em setembro de 2023. Quanto vai a Alstom investir? O mais crítico para o setor ferroviário português é o investimento em conhecimento, transferência de tecnologia e compromisso de longo prazo que a Alstom trará com este projeto. Um dos nossos elementos diferenciadores é que iremos localizar todos os elementos do processo de fabrico, incluindo os mais complexos. A fabricação de um comboio pode ser dividida, simplificando, em três fases: “flat packs” (maquinação, em que grandes peças de alumínio ganham a forma de piso, laterais, tecto e painéis de extremidade), “carbodyshell” (em que essas peças são unidas por soldagem), e acabamentos finais, seguindo-se teste e comissionamento. Os nossos comboios serão 100% fabricados em Portugal. Portugal e a CP já têm experiência e “know-how” em acabamentos. A diferença da nossa proposta é que também prevemos os trabalhos de soldagem de alumínio, desde a fase inicial de maquinação até à soldagem de um veículo completo. A soldagem de alumínio é particularmente complexa, exigindo tecnologia muito específica e trabalhadores altamente qualificados. Acreditamos que seremos os únicos a propor a introdução deste “know how” industrial. E, claro, a fábrica também fará os acabamentos. Estamos a planear uma fábrica completa e integrada, capaz de desenvolver todo o processo de fabricação industrial de comboios. Este é um avanço qualitativo único, que traz novas capacidades para o país, envolvendo novos conhecimentos e investimentos de longo prazo. A nossa fábrica é um avanço sem precedentes para o setor ferroviário em Portugal. Que dimensão e capacidade terá a fábrica em Guifões? Com uma área superior a 20.000 m2, a unidade da Alstom terá capacidade para produzir mais de 100 vagões por ano, o equivalente a 300.000 horas/ano, equipada com a tecnologia mais avançada do setor e o “know-how” de gestão de projetos desenvolvido pela Alstom em todo o mundo. Quando começará a construção? E a fabricar comboios? Estamos prontos para iniciar a construção hoje, se necessário. Já cumprimos todas as fases preliminares (localização do terreno, autorizações, projetos de engenharia civil e arquitetura) e estamos preparados para começar a fabricar comboios em Portugal e para Portugal. Temos o compromisso de entregar o primeiro comboio 40 meses após a assinatura do contrato. E este comboio, claro, vai nascer português. Em que prazo vão entregar esses 117 comboios à CP? Todos os comboios serão entregues entre 40 e 80 meses, contados a partir da notificação para efetivação do contrato. Quantos empregos vão criar? Considerando empregos diretos, indiretos e induzidos, a nossa proposta vai gerar mais de 1.500 empregos. Para o fabrico dos comboios, a Alstom vai juntar à sua equipa em Portugal cerca de 300 novos colaboradores em diferentes categorias profissionais, desde engenheiros e técnicos a soldadores, eletricistas, mecânicos. 15% dos novos postos de trabalho serão reservados a pessoas em situações especiais, como jovens desempregados, desempregados de longa duração, trabalhadores com algum tipo de deficiência. Além disso, graças à estratégia da Alstom de localizar totalmente a fabricação de comboios em Portugal, serão gerados mais de 1.000 empregos indiretos (fornecedores de componentes metálicos, elementos de interiores de comboios, ferramentaria, transporte, vigilância, limpeza, construção, logística, etc.). Tem alguma preocupação quanto à falta de trabalhadores qualificados em Portugal? Vamos trazer para Portugal novas capacidades industriais, processos e “know-how” que hoje não existem no país. Além da promoção de um mestrado específico com a Universidade do Porto temos previsto o estabelecimento de uma rede de parcerias com diferentes escolas profissionais da região do Porto. Ao longo dos 10 anos , primeira fase do projeto , mais de 200 alunos de mestrado e mais de 1.500 profissionais de formação profissional serão beneficiados pelas diferentes ações de formação direta desenvolvidas pela Alstom em Portugal. O que está previsto na parceria com a portuguesa DST? A proposta do grupo Alstom para Portugal nasceu com ADN português e vocação para desenvolver capacidades industriais em Portugal desde o primeiro minuto. É por isso que nos apresentamos juntamente com a DST porque somos portugueses, e temos DNA português incorporado. Pela sua experiência, a DST ficará responsável pela oficina de manutenção, que será sem dúvida uma referência para a região Europeia. Além disso, a DST também é um parceiro estratégico para o desenvolvimento do conhecimento técnico e formação de novos profissionais. Tem escolas e experiência na formação de competências técnicas que nos servirão de referência e modelo. O consórcio resultará numa nova empresa? Somos o único fabricante a trabalhar de mãos dadas com um parceiro local numa “joint venture”, que será responsável pela fabricação e comissionamento dos novos comboios.