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ECOSSISTEMAS DE SUSTENTABILIDADE

Dinheiro Vivo Online

2023-06-13 16:19:04

Tema relevante e explorado em diversas perspetivas, a sustentabilidade continua a necessitar de contributos de todos, sem exceção. Contributos, já não para a sua afirmação na sociedade, mas para a melhoria das práticas e mais efetiva implementação. O presente artigo não tem a ambição de ser inovador, mas o de providenciar um singelo contributo, na perspetiva de uma Escola de Gestão, para a busca de melhores práticas coletivas de gestão na área da sustentabilidade. Continuamos a assistir a paradoxos da sustentabilidade nas escolhas dos consumidores, sendo um dos exemplos clássicos a crescente procura (e estimativa de continuado crescimento em 2023) pela fast (ou super-fast) fashion e o aparente oposto no crescimento da venda de artigos de moda em segunda mão. Paradoxo, também, nas políticas públicas, com alguns países a proibirem a destruição de restos de coleções de moda - numa tentativa de regulação dos comportamentos de venda e compras massivas - enquanto outros anunciam publicamente que a sustentabilidade será preocupação para daqui a 20 anos, numa busca por industrializações que permitam igualdade de desenvolvimento. Portanto, é inevitável, continuarmos na busca do que podemos fazer de melhor. Exemplos desta busca são abundantes e implicam a seleção de perspetivas de análise. Uma destas é a perspetiva das ações coletivas de sustentabilidade, isto é a assunção de objetivos e ações comuns e partilhados entre várias organizações para o que poderá ser denominado de ecossistema da sustentabilidade. Dentro destes, buscámos os casos de parcerias entre organizações com objetivos de desenvolvimento ou criação de negócios, mas com incorporação de práticas comuns de sustentabilidade como diferenciação da sua competitividade. E encontramos muitos, em Portugal. Na mesma indústria do paradoxo da moda, encontramos os projetos de produção têxtil sustentável do CITEVE; desde a procura de matérias-primas alternativas, com o exemplo recente da criação de novas fibras com base em eucalipto, até ao aconselhamento do desenho sustentável do produto e a forma como as empresas o comunicam ao mercado. Mas abundam exemplos de ações coletivas em outras indústrias. Desde a produção de energia para o abastecimento de navios, no porto de Sines; à incorporação de materiais biodegradáveis em bicicletas em projeto liderado pela ABIMOTA; às habitações autossustentáveis em projetos de construtoras como a Casais e a DST; até a práticas mais extensas e que envolvem toda a cadeia de abastecimento, como os objetivos de descarbonização. E estes são apenas práticas na componente ambiental e energética da sustentabilidade. Hoje, sustentabilidade é muito mais, incorporando responsabilidade social, ética e outros fatores. Perante todo este contexto, qual o contributo que uma Escola de Gestão pode dar? Numa recente publicação (McKinsey, 2023), baseada em inquérito a executivos na indústria da moda, 79% dos inquiridos respondiam que a principal barreira ao desenvolvimento de práticas de gestão na sustentabilidade é a falta de standards para avaliar o desempenho sustentável. Este resultado compara com apenas 22% dos inquiridos afirmarem não dispor de recursos para a implementação de práticas de sustentabilidade e apenas 9% afirmarem não dispor de talento para com formação na área. Um dos contributos de uma Escola de Gestão poderá, portanto, ser o desenvolvimento de métricas e sua discussão para que sejam consensualizadas e adotadas de forma geral. Mas existem outras oportunidades, como a da sustentabilidade no currículo da formação para executivos: das disciplinas e cursos de sustentabilidade, à integração da sustentabilidade como requisito de gestão geral e oportunidade para a criação de negócios. Exemplos recentes incluem desde casos propostos por alunos de marketplaces para venda de roupa inclusiva ou roupa com características técnicas de maior durabilidade, a casos que passam das aulas para o empreendedorismo e seu investimento privado como o do emparelhamento em oportunidades de habitação social. Luís Marques, diretor do MBA Executivo da Católica Porto Business School