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DESLIZES DE PEDRO SÁNCHEZ ALAVANCARAM SUCESSOS À DIREITA

Jornal de Notícias Online

2023-06-19 12:38:05

Governação do socialista marcada por contrariedades que abrem a porta à liderança de Feijóo. PP precisa do Vox para obter maioria absoluta. O fim da era de Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha, tornou-se evidente após as eleições municipais e regionais, nas quais o principal partido da oposição, o Partido Popular (PP), obteve o maior número de votos. Os resultados inglórios alcançados pelo Partido Socialista (PSOE) motivaram o líder a antecipar as legislativas, que se realizam a 23 de julho, mas o ciclo que se segue, indicam as sondagens, pode estar prestes a encerrar um capítulo. Sánchez deverá abandonar o Palácio da Moncloa, dando lugar à Direita, alavancada pelas falhas suas políticas. As eleições de 28 de maio são observadas como um teste à liderança do Executivo e a ampla vitória do PP em diferentes regiões antecipa "a possibilidade de criação de uma dinâmica nova. Há uma manifestação da vontade do eleitorado que deixa antever alterações a nível nacional", assinala Marcos Farias Ferreira, professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa. A queda do Sanchismo O desejo de mudança na conjuntura política espanhola foi sendo semeado nos últimos anos e a culpa também pode ser atribuída a Sánchez. Marco Farias Ferreira salienta que "o estilo mais autoritário e a política frívola" do primeiro-ministro poderão não ter beneficiado a sua imagem, o que levou a Direita a criar o conceito "Sanchismo". Por outro lado, a reta final da atual legislatura ficou marcada por muitos altos e baixos. Foram notados "grandes desentendimentos internos", lembra o especialista em política espanhola, nomeadamente com os parceiros do Unidas Podemos. Na hora de algumas leis serem aprovadas, foi claro o clima de tensão entre alguns elementos do elenco governativo, o que também acabou por impulsionar o nascimento da coligação Sumar, encabeçada pela ministra do Trabalho Yolanda Díaz. O professor do ISCSP nota ainda que "os pactos alicerçados pelos socialistas com os partidos independentistas da Catalunha e com os partidos herdeiros do braço político da ETA no País Basco" não beneficiaram a imagem de Sánchez. Pedro Ponte e Sousa, professor de Relações Internacionais da Universidade Portucalense, acrescenta que a perda de apoio ao PSOE e a ascensão do PP - que nestas eleições deverá ser o único partido a obter melhor melhores resultados do que em 2019 - pode ser justificada, entre todas as outras razões, por estar a haver "uma certa viragem da Europa à Direita". O analista explica que tem prevalecido "uma retórica política, social e cultural que tem beneficiado posicionamentos económicos mais próximos do neo-liberalismo, sendo que partidos políticos mais próximos dessa linha têm saído reforçados". Ainda assim, Pedro Ponte e Sousa evidencia que o partido de Alberto Núñez Feijóo também traz vários problemas a reboque, entre os quais "a fraca popularidade do próprio líder". Somam-se embaraços associados "à imagem muito negativa da liderança de Mariano Rajoy enquanto primeiro-ministro (2011-2018), os esquemas de compra de votos recentemente denunciados em Melilla, os casos de corrupção das últimas décadas e ainda a extrema dependência do Vox", partido do qual o PP depende para conseguir maioria absoluta no Congresso dos Deputados. A pouco mais de um mês do escrutínio, numa entrevista publicada no domingo pelo jornal espanhol "El País", Pedro Sánchez mostra-se confiante no eleitorado, mas não esconde a preocupação com o facto de a extrema-direita poder entrar para o Executivo central. "Muito mais perigoso do que o Vox é que o PP assuma as suas políticas", alertou, um dia após se ficar a saber que o partido liderado por Santiago Abascal conseguiu participação em 140 governos municipais de Espanha. O que diz a sondagem? De acordo com uma sondagem publicada no início da semana pelo jornal ABC, o PP conta com 36,6% das intenções de voto, podendo alcançar entre 150 e 153 assentos no Congresso dos Deputados. Ainda que a solo o partido de Alberto Núñez Feijóo não consiga alcançar uma maioria absoluta (para tal, são necessários 176 lugares no Parlamento), uma aliança com o Vox trará essa possibilidade, já que o partido de Abascal deverá contar com 12,4% dos votos, sentando entre 33 a 35 parlamentares. Caso as duas forças se unam, e mesmo no pior cenário, será o suficiente para obterem a maioria necessária para formar Governo. O segundo partido mais votado seria, segundo a sondagem, o PSOE, que com 27,7% das intenções de voto poderia eleger entre 101 a 104 deputados, não sendo o suficiente para se manter no poder. À esquerda dos socialistas, a coligação Sumar, que vai a jogo em confluência com o Unidas Podemos e outras formações da mesma ala, deverá conseguir entre 27 a 29 deputados (com 11,2% dos votos), sendo que, mesmo que a aliança se unisse ao partido de Sánchez, as duas formações não conseguiriam obter uma maioria suficientemente firme para derrubar a Direita.