pressmedia logo

PODE KAMALA HARRIS RECUPERAR O ÂNIMO DEMOCRATA E TRAVAR DONALD TRUMP?

Público Online

2024-07-22 06:00:15

A vice-presidente foi lançada pelo Presidente dos EUA. Agora terá de passar na convenção democrata de Chicago, em Agosto. À pressão mais do que evidente por parte dos círculos mais próximos de Joe Biden , as dúvidas de Barack Obama terão sido determinantes? , para que o Presidente dos EUA abdicasse da corrida à reeleição de Novembro, somava-se uma pergunta: quem é o nome que se segue para enfrentar Donald Trump? Tudo será decidido na convenção dos democratas em Chicago, que se realiza entre os dias 19 e 22 de Agosto, mas nem meia hora depois de ter anunciado a desistência, Biden lançou um nome para a pole position: Kamala Harris. "Hoje quero oferecer o meu total apoio a Kamala para que seja a candidata do nosso partido este ano. Democratas , é altura de nos unirmos e derrotarmos Trump. Vamos a isto", escreveu na rede social X. "Sinto-me honrada por ter o apoio do Presidente e a minha intenção é conquistar e ganhar esta nomeação. Durante o ano passado, viajei por todo o país, falando com os americanos sobre a escolha clara nesta eleição importante. E é isso que continuarei a fazer nos próximos dias e semanas. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para unir o Partido Democrata , e unir a nossa nação , para derrotar Donald Trump e a sua agenda extremista do Projecto 2025", respondeu mais tarde Kamala Harris, num comunicado citado pelo jornal The New York Times. A até agora mais que provável candidata à reeleição como vice-presidente dos EUA tem sido apontada como uma escolha mais do que natural, a começar pelo simples facto de que os principais fundos angariados pela campanha de Biden até hoje devem ser colocados à sua disposição. E, nesta altura, tal como escreveu o The New York Times, a questão financeira é verdadeiramente um problema, uma vez que o Partido Democrata esperava uma queda abrupta dos fundos recolhidos em Julho face às previsões iniciais. Com 59 anos, faz 60 em Outubro ainda antes das eleições, Kamala Harris nasceu em Oakland, na Califórnia. Filha de um pai jamaicano e de mãe indiana, desde sempre que se identificou como afro-americana, o que a pode ajudar a aproximar-se de camadas deste eleitorado tradicionalmente mais próximo dos democratas e que as sondagens apontam como estando também a escapar para os republicanos. Se a convenção democrata a confirmar como a candidata do partido à Casa Branca, fará história como a primeira mulher negra a ser candidata às presidenciais por um grande partido. Kamala já tinha sido a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira asiático-americana a ascender à vice-presidência dos EUA. Números pouco favoráveis As taxas de aprovação são, contudo, um aspecto que pode retrair algum do entusiasmo nas hostes democratas por esta altura. Segundo o site FiveThirtyEight, a taxa de aprovação da californiana era, a 18 de Julho, inferior a 40% e a de desaprovação rondava os 50%. A última vez em que a sua taxa de aprovação foi positiva remonta a 11 de Setembro de 2021. Números, ainda assim, mais favoráveis do que os de Joe Biden, que, com as taxas de aprovação muito semelhantes, tem uma taxa de desaprovação de 58%. No que diz respeito às sondagens, e quando colocados frente a frente com Donald Trump, a diferença entre Joe Biden e Kamala Harris não parece ser tão significativa. Na última sondagem da CBS News, apresentada no final da semana passada, Donald Trump vencia tanto Joe Biden (52%-47%) como Kamala Harris (51%-48%). Apesar de a matemática não ser a mais favorável neste momento, Pedro Ponte e Sousa, professor de Relações Internacionais na Universidade Portucalense e investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), destaca que a possibilidade levantada pela desistência de Joe Biden pode "gerar ímpeto positivo na campanha e uma onda de força que consiga virar os resultados negativos das sondagens". Uma opinião partilhada também por Sandra Fernandes, professora de Relações Internacionais da Universidade do Minho, que destaca o papel de um novo nome "numa altura em que Joe Biden estava a perder muitos financiadores para a sua campanha". A especialista pede ainda alguma cautela quando se olha para os números das sondagens e das taxas de aprovação. "É importante perceber que Kamala Harris desempenhou um papel complexo, o de vice-presidente, cuja única função é substituir as funções de Presidente. É até injusto exigir muito de alguém com estas funções", justifica. Nova campanha dos republicanos Pouco depois da desistência de Biden, e do apoio dado a Kamala Harris, Donald Trump, que na noite anterior já tinha dirigido palavras pouco simpáticas à democrata num comício no Michigan, disse à CNN que seria mais fácil derrotar a vice-presidente. Para Sandra Fernandes, a entrada de alguém mais jovem na corrida esvazia aqui um dos argumentos que tinha sido usado nos últimos tempos pela campanha republicana. "É uma mulher, muito mais nova do que Donald Trump. Trump já não vai poder basear a sua campanha a gozar com a fraqueza mental e física de Joe Biden. Vai ter uma pessoa mais jovem, o que obriga os republicanos a ajustar a sua campanha e isso pode ter um efeito positivo para os democratas", resume a especialista. Para Pedro Ponte e Sousa, a proximidade de Kamala Harris a grupos minoritários, mais do que uma vantagem, pode, em alguns casos, ser uma desvantagem, nomeadamente nos chamados swing states, e numa altura marcada pela extrema polarização dos votantes. "Dificilmente vai apelar a moderados e indecisos, sobretudo nos estados decisivos", argumenta o investigador, que sublinha ainda o facto de a democrata "ser vista por muito do eleitorado como próxima das elites", o que pode dificultar, por exemplo, "a relação com o eleitorado mais rural".