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“TEMOS LÍTIO MAIS QUE SUFICIENTE PARA ATRAIR MAIS INDÚSTRIA PARA PORTUGAL”, DEFENDE LÍDER DA SAVANNAH RESOURCES

Expresso Online

2024-08-02 06:00:08

Miguel Prado Jornalista Segundo o presidente executivo da Savannah, Emanuel Proença, o município de Boticas ganhará até EUR10 milhões por ano em royalties com o projeto que a empresa irá desenvolver para extrair espodumena de lítio Foi a partir de Perth, na Austrália, que Emanuel Proença, presidente executivo (CEO) da Savannah Resources, falou ao Expresso. A Austrália é hoje o maior produtor mun­dial de lítio, mas Portugal, que tem as maiores reservas conhecidas deste recurso na Europa, está também a posicionar-se. É uma matéria-prima essencial para a mobilidade elétrica. “Não temos volumes suficientes para fazer tudo, mas ninguém no mundo os tem. Mas temos volumes mais que suficientes para atrair mais indústria para Portugal e, claramente, para servir bem os objetivos europeus plasmados no regulamento europeu das matérias-primas críticas”, afirma o executivo português. O gestor lidera desde o ano passado a Savannah Resources, empresa cotada em Londres e que tem entre os seus acionistas a alemã AMG Lithium, o fundo Al Marjan (com sede nas Ilhas Caimão), a australiana Slipstream Resources e o empresário português Mário Ferreira. A Savannah irá explorar a mina do Barroso, em Boticas, esperando uma produção anual de 191 mil toneladas de espodumena, minério cuja refinação permite extrair o lítio que é usado no fabrico de bate­rias (a empresa conta iniciar as obras em 2025). De acordo com o executivo, só a produção prevista pela Savannah fornecerá o lítio necessário para meio milhão de veículos elétricos por ano (a título de comparação, a Autoeuropa, em Palmela, fabricou no ano passado 220 mil carros, mas com motores de combustão). Além das concessões de exploração da Savannah (Boticas) e da Lusorecursos (Montalegre), o anterior Governo identificou mais seis áreas para a prospeção de lítio em Portugal, no entanto os concursos não chegaram a ser lançados. A atual ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, afirmou este mês que poderão ser feitos ajustes a essas áreas, em função das conclusões do grupo de trabalho que acaba de ser criado para transpor para o quadro jurídico na­cional o regulamento europeu das matérias-primas críticas. Emanuel Proença chama a atenção para a necessidade de Portugal tomar decisões rapidamente. “Ao mesmo tempo que há um grupo de trabalho, é bom que haja ação. A grande necessidade que haverá de lítio [para veí­culos elétricos] é de 2027 a 2035 e temos de ter os projetos a produzir em 2027 para eles poderem servir bem a necessidade”, defende. “A Austrália, a China e o Chile foram precursores no desenvolvimento da fileira de produção de minerais de lítio. A Europa e os Estados Unidos têm agora a necessidade de recuperar o atraso e acelerar e ainda vão a tempo. Portugal deve fazer parte desse jogo”, reforça o líder da Savannah. Segundo ele, Portugal tem condições para ter uma cadeia de valor de baterias (que é, aliás, a designação de uma das agendas mobilizadoras apoiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência, e de que a Savannah faz parte). “Isso tem todas as condições para acontecer agora. É agora e nos próximos anos que são tomadas as decisões de investimento e colocação no mapa das cerca de 300 gigafacto­ries de veículos elétricos que se irão fazer pelo mundo fora. É nesta fase que se tomam as decisões de investimento para as refinarias de lítio e para as fábricas de baterias”, alerta. “Portugal tem outros locais onde provavelmente haverá lítio. Em que forma aparece, em que mineral e com que grau de concentração são questões relevantes a tratar. Só saberemos se pusermos a prospeção a funcionar”, observa, notando que no caso da Savannah existe “um recurso de espodumena de lítio de altíssima qualidade”. No seu site, a Savannah estima um retorno do investimento em Boticas (cerca de EUR218 milhões) em apenas 1,3 anos. Mas o gestor português defende que estes projetos não beneficiam só os investidores. “Hoje Perth é o centro de produção de espodumena de lítio a nível mundial e é um dos grandes abastecedores tanto do mercado australiano como do mercado chinês e outros”, nota. “Isso gerou na cidade e na região milhares de empregos muito bem pagos, milhares de milhões de euros de investimento, empresas novas ou reforçadas, muito valor para os acionistas e muito valor para as comunidades em que se inseriram estes projetos”, acrescenta. “O nosso projeto ainda não está em produção e já emprega bastantes pessoas locais. Já trouxe de volta filhos da terra que estavam em França há 15 anos e já levou para o interior famílias de jovens que querem lá fazer vida”, assegura Emanuel Proença, acrescentando que quando a mina do Barroso começar a produzir deverá geral anualmente EUR10 milhões em royalties para Boticas (cujo orçamento para 2024 é de EUR14 milhões). Mas acontece que também o Estado central irá faturar. “Num cálculo conservador, estamos a falar de mais de mil milhões de euros de valor para o Estado que são gerados durante a primeira fase do nosso projeto, ao longo de 14 anos.” O CEO da Savannah advoga que o país continue a aposta noutras matérias-primas, lembrando o feldspato, explorado há décadas em Portugal. “Se não fosse ele, não teríamos a indústria cerâmica que temos, não teríamos tão facilmente empresas como a Vista Alegre, a Revigrés, a Viúva Lamego e outras.” Emanuel Proença acrescenta que, por exemplo, “o cobre é crítico para o desenvolvimento das redes elétricas, que permitem ter mais renováveis no sistema”. E aponta os exemplos da Somincor e da Almina: “Têm muitos mais anos de trabalho pela frente.” NÚMEROS 10 milhões de euros é o valor anual de royalties que deverão reverter anualmente para o município de Boticas 191 mil toneladas de espodumena de lítio é quanto o projeto da Savannah deverá produzir a cada ano, o suficiente para abastecer meio milhão de baterias para carros elétricos TRÊS PERGUNTAS A Emanuel ProençaCEO da Savannah Resources A exploração de lítio em Portugal tem suscitado controvérsia. Os interesses económicos estão a sobrepor-se aos ambientais? Não. De forma nenhuma. O processo que levou a que a Savannah tivesse um visto para avançar para outras fases do projeto [em Boticas] foi brutalmente exigente. Levou a que o projeto se tornasse muito robusto na componente ambiental e na relação com a região em que se insere. O capital empregue no nosso investimento é quase três vezes mais do que um investimento de dimensão similar que foi feito no Brasil. Boa parte desse investimento adicional resulta de fazermos as coisas de acordo com os standards europeus do século XXI. Quão relevante pode ser a exploração de lítio para a economia portuguesa? A importância potencial é enorme. O nosso projeto sozinho produzirá espodumena para lítio suficiente para meio milhão a um milhão de veículos elétricos por ano. A Autoeuropa hoje produz perto de 200 mil veículos e Portugal consome 180 mil veículos por ano. Se conseguirmos fazer um bom desenvolvimento do recurso mineiro, conseguiremos construir muito valor pelo projeto em si e ajudar a que Portugal tenha mais probabilidade de conseguir desenvolver toda a fileira a jusante, com impactos potenciais muito grandes na industrialização do país. O que é essencial para que a aposta portuguesa nas matérias-primas críticas resulte? Ação. Fazer acontecer. A indústria de recursos minerais requer trabalho a longo prazo e quer que se atraia para Portugal empresas que estejam dispostas a correr o risco de ao longo de 10 anos trabalhar um recurso determinado até provar por completo que ele lá está e é viável economicamente e gerar valor. É preciso atrair essas empresas, que apostam com bastante risco em conseguir fazer o desenvolvimento ao longo de muitos anos. Para as empresas que já fizeram isso é preciso ter procedimentos expeditos, que sejam exigentes e rigorosos, e assegurar que essas empresas possam entrar em produção o mais rapidamente possível.