PARCERIAS - FATORES ESG SÃO UM DESAFIO E UMA OPORTUNIDADE PARA AS PME
2024-11-30 07:33:04

Adotar práticas sustentáveis vai tornar-se obrigatório para todas as organizações, particularmente as que atuem no espaço europeu. As pressões para incorporar o ESG nas cadeias de valor é cada vez maior, quer a nível regulatório, quer das expectativas dos consumidores. A sustentabilidade já há muito deixou de ser um conceito desconhecido, quer no dia-a-dia da generalidade das pessoas, quer em contexto empresarial, e vai muito além das preocupações ambientais. Os fatores sociais e de governança completam 0 triângulo virtuoso do ESG - sigla em inglês pmEnvironmental, Social and Governance -, cuja adoção é uma prioridade para todas as organizações, incluindo as Pequenas e Médias Empresas (PME). No entanto, pela sua dimensão e recursos muitas vezes mais limitados, cumprir esses objetivos poderá ser mais difícil. Para Rui Pedro Almeida, CEO da Moneris, que marcou presença num debate sobre esta temática, há ainda “um longo caminho a fazer”, mas os indicadores mostram que as empresas olham para 0 ESG como "um desafio e uma oportunidade”, de acordo também com números do Observatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável nas Empresas Portuguesas, um projeto de investigação da Universidade Católica Portuguesa. O relatório produzido este ano pela instituição revela que 66,7% das PME veem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como uma oportunidade de negócio, mas apenas 40% os integram nas suas estratégias. "Há um desafio muito grande a ser endereçado pelas PME portuguesas e europeias”, apontou 0 responsável da consultora, sublinhando, no entanto, que há sempre setores mais bem preparados do que outros. Aqueles que estão internacionalizados estão "bastante bem preparados”, como é o caso dos têxteis, do calçado ou do setor automóvel, que já incorporaram o ESG nas suas estratégias empresariais. “Trata-se exatamente disso: adotar as dimensões do ESG, não de criar uma estratégia voltada para 0 ESG”, esclareceu. No fundo, o que se pretende não é que as empresas façam coisas diferentes, mas antes que as façam de forma distinta. Integrar uma forma de estar mais sustentável, sempre de olhos postos no futuro, é 0 que se pretende das organizações e, nesse sentido, Por-tugal já tem dado “passos bastante estruturais na adoção [do ESG] por parte das PME”. Contudo, existe ainda a necessidade de “industrializar” a abordagem ESG para as empresas mais pequenas, que não têm a mesma capacidade e disponibilidade financeira de uma grande corporação. Conformidade no espaço europeu Os fatores ESG vão, de facto, tornar-se obrigatórios para todas as empresas que comercializem na Europa e, quanto mais internacional a atividade, maior a quantidade de fontes de pressão. No campo da regulação, por exemplo através da Diretiva Europeia para 0 Reporte de Sustentabilidade (CSRD na sigla em inglês), as empresas já são obrigadas a garantir que toda a sua cadeia de valor está em conformidade com os padrões ESG. Inclusive, os organismos que certificam a adoção das práticas de ESG, como 0 European Financial Reporting Group (EFRAG), “estão a publicar um conjunto de normas que terão necessariamente de ser adotadas pelas empresas”, explicou 0 diretor-executivo da Moneris. Um dos grandes objetivos passa por evitar 0 greenwashing, isto é, que as organizações publicitem práticas sustentáveis que na verdade não adotaram no seu ADN corporativo. “As empresas precisam de adequar a sua estratégia àquilo que são os ODS e de calcular a sua dupla materialidade”, ou seja, compreender como impactam, por exemplo, a questão ambiental, mas também como são impactadas por ela, e não esquecer a importância dos restantes dois pilares, social e governança, "muitas vezes menorizados”. Precisamente por englobar variadíssimos fatores, passando pelo ambiente e pela descarbonizaçâo, pela responsabilidade social, no sentido de respeitar e promover a igualdade de género, e pela governança colocando a “transparência como ponto número um”, é necessário que as empresas façam uma análise de valor para continuar a garantir a sustentabilidade financeira, explicou Filipe Morais, que participou igualmente no debate. Para o professor de Govemance e Reputação na Henley Business School, no Reino Unido, é preciso que haja “conformidade no cumprimento dos requisitos ESG, mas sem retirar a competitividade às empresas”, que estão abraços com a pressão regulatória no espaço europeu, mas também sob 0 escrutínio de clientes e parceiros. “A pressão será crescente, assim como a questão geracional”, apontou o professor, com os mercados Business to Business (B2B) a serem, em primeira instância, mais afetados. Os segmentos menos sensíveis aos custos subjacentes à produção de bens sustentáveis serão os primeiros a começar, mas enquanto não houver uma adoção generalizada dos princípios ESG, haverá sempre dificuldade. “Por muito que a transformação dos valores sociais vá no sentido de um consumo mais sustentável, no final, 0 dinheiro fala”. Não obstante os desafios, a verdade é que os requisitos impostos pelas diretivas europeias e os standards a ser lançados já em 2025 - cinco para o ambiente, quatro para 0 social e um para a governança -, “paulatinamente serão adotados pelas empresas maiores, mas gradualmente começaram a ser impostos também às PME”. Contudo, a ideia é partir sempre de uma avaliação da cadeia de valor da organização e das atividades que desenvolve, e perceber como se pode mitigar os riscos associados ao ESG dentro dessas atividades. Para Filipe Morais, é preciso começar por passos pequenos, mas seguros e na direção certa, tendo em mente que 0 tema “garantidamente não vai sair da agenda”. 0 que se pretende não é que as empresas façam coisas diferentes, mas antes que as façam de forma distinta. Integrar uma forma de estar mais sustentável, sempre de olhos postos no futuro.