Uma questão de ADN Podem ser irmãos, avós e netos, pais e filhos, companheiros, marido e mulher... São pessoas da mesma família que se juntam para uma conversa em que se fala de tudo. São percursos de vida e testemunhos que atravessam diferentes gerações. O que os une para lá do apelido, o que os separa para lá da diferença de idades. Quarta-feira, depois das 13h00. Repete ao domingo, após as 14h00. Com Teresa Dias Mendes "A Trombeta Vaga", livro de estreia de Simão Lucas Pires, dá o toque para a leitura ao sabor da rádio. Anunciam-se oito contos, com uma nota prévia ao leitor - que é logo meio conto - onde a vertigem duma queda, em câmara lenta, dispara imagens de lugares e de pessoas, que se vão esbatendo, diluindo em manchas, pontos escuros, até o mundo começar a rodar a um ritmo alucinante, e PUFF, o homem estatela-se com violência. Irá parar a um deserto, onde uma voz há-de dizer: Agora. "Caramba, como é que eu não me lembrei disto?", exclama Jacinto Lucas Pires, entre o orgulho e uma certa inveja, "um bocado a inveja inspiradora que se tem ao ler certos autores". O escritor, encenador e dramaturgo, irmão mais velho de Simão Lucas Pires, rasga o sorriso para falar de "contos espantosos e especiais, até para um irmão", e saúda a chegada do professor de filosofia, ao ofício da escrita. Simão tem 33 anos, é professor de Filosofia e guarda cadernos desde pequeno com frases e ideias buriladas para um livro que havia de acontecer. "Cresci com o gosto pela literatura também por ver o Jacinto a escrever, de ler os livros dele e os que ele me recomendava". Tinha 6 anos quando o irmão publicou o primeiro livro, talvez não por acaso, 13 contos intitulados "Para Averiguar do Seu Grau de Pureza". Jacinto Lucas Pires escreve peças de teatro, filmes, romances e música. Venceu o Grande Prémio de Literatura DST, com o livro "O Verdadeiro Actor" e, mais recentemente, o Prémio John Dos Passos com "Oração a que Faltam Joelhos". Os dois, o mais velho e o mais novo dos quatro filhos de Francisco Lucas Pires, recordam o pai e as sementes deixadas por um homem "otimista, bem-disposto, tão distraído quanto atento ao pormenor". Falam com o coração na boca e procuram, na oficina da escrita, o coração das palavras. Se os ouvir dizer "Caráspita!", é uma herança da avó Paulina. Teresa Dias Mendes